Saudades...

Sim, ao fim de 5 anos voltei a este cantinho.

Voltei porque as saudades apertam. Saudades de escrever, deste espaço, de me sentir mais próxima de todos. Saudades de tudo e de nada, pois é assim que me sinto nos momentos que correm...

Saudades do meu espaço, sem ser interrompida, sem perguntas como: o que é hoje o almoço, onde está o açúcar ou aquela que me deixa completamente fora de mim...o que é que estás a fazeeeer?

Saudades de ter saudades das minhas filhas. De esperar ansiosamente a hora de chegarem a casa e perguntar como foi o dia. O lanchinho recheado de coisas boas e conversas longas sobre o que fez, o que aconteceu, o que aprendeu, o que foi divertido e o que foi uma seca.

Saudades de viajar, de aeroportos e aviões. O que me leva para as saudades de Lisboa, essa menina e moça que de repente ficou distante, triste e cinzenta. De entrar na minha casa e reconhecer todos os cantinhos onde as minhas filhas cresceram. Do pequeno almoço na Tentadora, de ir ao Mercado e passar pela Zézinha que me oferece imensos ovinhos para a canja das "meninas" e a senhora dos legumes que escolhe o melhor e manda um saquinho de tremoços...também para as "meninas". De percorrer as ruas de Campo de Ourique e acabar a enfeirar no chinês da roupa gira. Das batatas fritas da Xurrex, do frango assado da Valênciana, das comidinhas do Sr. Tomás e de levar tantos bolos da Teresa Pyrret para casa, como se não houvesse amanhã.

Saudades do Bahrain, tantas...da cor do mar, do cheiro no ar, dos pequenos almoços com as amigas cheios de conversas de nada, do Moonson, das escapadelas a Murraraq e dos supermercados cheios de cor e coisas diferentes. As costeletas de borrego com os amigos naquele tasco que ninguém se atreve a ir, do bowling que nunca ganhei e da praia até ao final do dia. E as saudades do Artology, tantas. O meu canto, o meu espaço, onde trabalhei e me divertia tanto.

Saudades dos amigos que estão aqui e acolá, por esse mundo fora e não sei quando vou voltar a vê-los. Dizem que os  meios tecnológicos ajudam, nós respondemos que sim para não sermos desmancha prazeres ou desagradáveis.
Mas vamos ser sinceros, somos Portugueses! Portugueses não se encontram com os amigos nas salas de Zoom, nem falam por WhatsApp.
Portugueses encontram-se à volta de uma mesa, comem caracóis, bebem cerveja e riem-se com os disparates que dizem. Aquela amiga especial não escreve, pelo contrário lê nos nossos olhos o que sentimos e responde com um gesto de carinho que quer dizer: estou aqui para ti.

Saudades do Sol. Do Sol a sério, aquele sol que toca na face e na nossa pele e nos aquece o corpo e a alma. Não é este sol covarde, medricas que se esconde nas nuvens o tempo inteiro. E quando ganha coragem de espreitar, é falso e apunhala-nos pelas costas com um vento tão gelado que nos deixa frios o resto do dia.

Saudades de ir ao centro de Dublin. De meter-me no comboio, passar na galeria de arte para me resguardar um pouco da chuva e encher a alma com pinturas bonitas. De seguida ir espreitar a minha livraria preferida, de ver as novidades da moda e acabar naquela loja dos Donuts onde escolho quatro, sempre quatro para trazer para as meninas. De ir explorar e de conhecer novos lugares nesta terra que agora chamo de casa e nem a conheço.

Saudades da família, sim estava a evitar ir por aí. Ficou para o fim pois, não há muito a dizer ou a enganar...perdem-se aniversários, perdem-se as festas de família, as visitas, o estou aqui quando estão doentes porque, vamos ser sinceros: estou fechada numa ilha!

Saudades de mim, saudades de ser honesta. Quando perguntam, respondo que está tudo bem mas, Não, não está tudo bem. Mas nos dias que correm, não podemos responder a verdade porque aí cresce o sentimento de culpa, de como sou egoísta e insensível.
E na verdade é assim que tem de ser, acreditar que está tudo bem e que vai ficar tudo bem!



Comentários

Anónimo disse…
Amei reler os teus escritos...os sentimentos são semelhantes...não não está tudo bem mas vamos tentando manter a serenidade sem enloquecer. Beijo muito grande Tx
Anónimo disse…
Bem vinda. A escrita liberta-nos. Escreve mais, escreve muito!
Beijos,
Cajoca

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